A administradora
Emilly, a menina dos olhos castanhos, cabelos loiros, volumosos e na altura do pescoço. Conheceu Cristiano aos 19 anos, ele tinha 30, trabalhava no banco e ganhava muito bem.
Leve, mas não tão livre, Emilly vivia no auge do curso de administração. Cristiano era um bom partido, uma experiência bem vivida e um modelo para a profissão. Mas, às vezes, as transações de Cristiano pareciam querer invadir o espaço de Emilly.
- Só quer saber dessa faculdade! Depois ainda vai fazer caridade naquela igreja... Ah Emi, você não administra seu tempo, quando o cara arranja outra ainda ficam reclamando.
Emilly amava ser chamada de Emi, mas diante daquele contexto toda alegria virava angústia.
- Será que você não vê que tô tentando, amor?! Cris, é difícil bater as metas que você quer.
O namoro foi ganhando tempo, as brigas ficando corriqueiras... Num domingo à tarde, só se ouviam gritos da esquina do apartamento de Cristiano.
- Chega Emi, você nunca tem tempo pra mim!
Emilly olhou para Cristiano, pegou sua bolsa e antes de ir, advertiu:
- A partir de agora a gestão da minha vida será minha e não será participativa. Centralizarei tudo em mim, não é assim que enxerga?! Procure outra pessoa que saiba otimizar o tempo.
Desse dia em diante, Emilly foi beber tequila com os amigos para esquecer as noites quentes do relacionamento e as cobranças das primas para o tal casamento. Esqueceu de cozinhar, das celulites contraídas por falta de tempo para frequentar a academia.
Hoje, aos 50 anos, Emilly ainda ama Cristiano, mas não serve ao comando dos outros, não liga de estar na boca dos outros. Emilly é lembrada todos os dias pelas primas antigas que está envelhecendo. E quando começa a ficar reflexiva demais, lembra do cuidado de si, lembra que decisões precisam ser tomadas, que as pessoas devem ser respeitadas, mas gestão de sua vida nunca será participativa.
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Sobre a autora:
Leciona no Ensino Superior e Ensino Médio. É Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e Licenciada em Letras Vernáculas pela mesma instituição. Com a escrita literária faz parte da “Confraria Poética Feminina”, integra a II Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Além da Terra, Além do Céu (2017) e a Coletânea Desenganos (2017).