Novos Franciscos
No coração da Amazônia, o tiro acerta o alvo. O corpo de Francisco vai ao chão, feito árvore tombada. Xapuri chora pelo líder seringueiro. “É o fim”, pensam seus algozes.
Os anos seguintes são de progresso. A ordem é não deixar uma árvore em pé. A floresta precisa dar lugar ao lucro.
Pouco tempo depois, o trabalho está quase completo. Resta somente uma seringueira, nascida intrigantemente no local exato onde Francisco caiu ferido.
Na hora marcada, as máquinas estão posicionadas. Dado o sinal, avançam em direção à árvore. Aos poucos, vai chegando uma gente do povo, que se coloca entre a seringueira e os tratores para empatar a derrubada.
Mesmo sob ameaça, o povo não arreda o pé. Ouve-se um tiro e, no meio da multidão, um corpo cai. Feito látex a escorrer da árvore amazônica, o sangue do ferido toca o chão e dali se ergue outra imponente seringueira.
Perplexos, os jagunços voltam a atirar. E, a cada corpo que cai, nasce uma árvore. E de cada árvore, um novo Francisco. O que os algozes de Chico não sabiam é que balas não matam sonhos.
Viva! A floresta está viva.
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Sobre o autor:
Aldenor Pimentel é natural de Boa Vista-RR. Jornalista, poeta e escritor, foi o primeiro colocado no 5º Prêmio Literário Sérgio Farina, categoria Prata da Casa, da Prefeitura de São Leopoldo (RS), além de ter recebido outros 30 prêmios e menções honrosas em concursos literários nacionais e internacionais. É autor da obra Deus para Presidência (2015).